terça-feira, 24 de abril de 2012

Trauma happenings #2

Não reagiu.

Ficou sentado a contemplar o prato com arroz de ervilhas e o ovo estrelado,mal passado, com a gema a escorrer pela clara como se tratasse de um fluido temporal que se escorre pelas mãos em que ficamos petrificados e a única coisa que conseguimos é deixá-lo passar...

Os grãos eram como que pequenas agulhas que penetravam no peito e lhe faziam aumentar a pulsação...A vida não lhe vinha a sorrir e o mais expectável era acontecer o sucedido mas ainda assim petrificou...Bastou o "Não" ouvido em resposta ao telefone seguido de um choro compulsivo e um "Desculpe mãe...Eu não estive com ele até ao fim...".Mas ela tinha feito tudo e tinha sido incansável no apoio incondicional em que só parava para comer,para trabalhar e mal dormia...

Ele continuava petrificado.Sabia que era o final de um ciclo...O final de um ciclo em que tinha uma figura masculina digna,com valores.Ia deixar-lhe uma cicatriz ainda mais funda nos duros 15 anos que tinha (no fundo mais tarde veio a fazê-lo crescer e a amadurecer mais depressa do que o esperado).

Não deitou uma lágrima em todo o tempo de nojo, assistiu a tudo de forma passiva e sem saber o que dizer ou fazer...Enquanto outros enchiam a casa e marcavam presença pelo apreço que tinham tido, por negócios que tinham feito e pela honestidade de sempre, pela lealdade a ele, pela alegria sempre por ele demonstrada; ele estava fechado no quarto a pensar...Iria para sempre recordá-lo como a pessoa mais alegre que conheceu,a pessoa mais trabalhadora e com mais jeito para o negócio que tinha pela esperteza que demonstrava (já com 12 anos era ele que fazia os negócios da família por incapacidade do pai poder ir às feiras e eram 13 irmãos na família...), pela persistência e força interior que tinha (mesmo com um pulmão desde jovem nunca parava de trabalhar), pela boa disposição e porque acima de tudo lhe ensinou que para se ser um chefe de família respeitado não se impõem respeito pela força mas por amor.Se queremos que alguém que nos é próximo aja de acordo com aquilo que esperamos dela devemos respeitá-la sempre para que ela nos respeite e dando-lhe amor e compreensão é a melhor forma de conseguir união,coesão e respeito...

No final, passado anos, voltou ao cemitério da aldeia...Um cemitério bastante pequeno...Tinha deixado de lá ir pela ignorância e pela falta de civismo e moral demonstrada pelo pai patente numa pedra...

Olhou para a campa onde a estava a fotografia e sorriu...Lembrou-se dele com felicidade, já não estava triste nem desolado por ele ter partido, no fundo algum dia tinha de ser,recordava-o como sabia que ele queria ser recordado, com alegria...Quando a avó saiu do cemitério ele ficou mais um bocado a olhar para a foto e antes de sair disse só em tom sereno e de paz "Obrigado por tudo avô!".

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Para longe...

Se tivesse o dinheiro necessário e o meu curso tirado neste momento ia embora para longe...

Estou farto de tudo o que me rodeia e nem os que sempre me amaram incondicionalmente me podem confortar quando a desilusão e a raiva tomam conta de mim...Quero ir embora, ter responsabilidades e ganhar o meu dinheiro e rumar ao meu destino...Desculpa mãe, eu um dia volto e prometo que te vais orgulhar de mim...Vou partir...Já nada me prende aqui...Tudo aqui é me desilude ou me falha...Vou para longe...Para onde ninguém saiba, para onde ninguém me possa contactar ou saber que eu estou lá...

Corre nas minhas veias o cansaço e o despedaçar do que restava....
Estou farto...

Desculpem...