terça-feira, 12 de novembro de 2013

Identificação

Desde sempre acho que sempre tive uma necessidade forte de me auto-definir; de conseguir perceber aquilo que sou, que características tenho, que gostos me definem como pessoa, que interesses me vincam e me diferenciam de outros...Todo esse tipo de coisas.

Inicialmente por influência de sentimentos adolescentes, tinha a necessidade de me afirmar uma coisa diferente dos outros, com raiva do que era igual, do que era homogéneo e desvalorizando tudo o que a maioria gostava. No fundo, acho que é um misto de atitude "punk" revoltada adolescente com vontade de um ser pseudo-intelectual de esquerda. Lembro-me até de fazer "quizzes" na net, do género "Que personagem do Final Fantasy és tu?" ou coisa do género... Como se isso por artes mágicas me fizesse ser algo mais elevado ou superior do que aquilo que eu realmente era.

Hoje que penso nisso, não me arrependo de nada, pois só assim posso olhar para trás com espírito crítico e ver onde mudei. Numas coisas para melhor noutras para pior. Acho que qualquer pessoa, tende a ser um bocadinho auto-manipulada pelo ego para se tentar afirmar ou tentar achar que algo mais do que aquilo é. Que temos um alter-ego fascinante que nos diferencia e nos eleva de tudo e todos. Uma espécie de tudo aquilo que eles vêem é um Clark Kent desajeitado mas no fundo eu sou um herói capaz de mudar o destino da humanidade. Ou então que todos pensam que eu sou um Bruce Wayne fútil, consumidor e despreocupado quando no fundo sou o defensor máximo dos fracos e oprimidos sempre disposto a sacrificar-me por causas maiores. Embora alguns possam admitir e outros não, esta é a realidade...

Desde os tempos do hi5 e até no Facebook agora...Todos gostam de pôr lá os seus gostos, quer na música, no cinema, nos livros. Todos querem mostrar que gostam disto ou daquilo que de uma forma ou outra têm uma certa atitude para poder definir-se e saber aquilo que são...

Mas será que aquilo que achamos que nos define é aquilo que verdadeiramente somos?
Não estaremos às vezes demasiado embebidos num espírito de cegueira emocional que não nos deixa ver aquilo que realmente somos?

Eu não sei, dou por mim a achar aquilo que ouvi outro dia na televisão, crescemos cada vez mais tarde, casamos cada vez mais tarde, temos filhos cada vez mais tarde e até, veja-se lá, morremos cada vez mais tarde... Às vezes olho para mim e acho que a sociedade espera de mim uma maturidade que eu penso não ter. E tenho 26 anos! Já devia pelo menos ser um adulto em condições mas olho para dentro de mim e vejo um poço tão grande, tão enorme, tão gigante de dúvidas, inseguranças, medos...Coisas que agora que penso, se calhar quando era mais novo e olhava para alguém que tinha 26 anos, pensava eu que essas pessoas eram maduras, mais velhas e com muita mais responsabilidade do que aquilo que eu, actualmente, possuo. E se calhar até o eram... Não podia fazer um raio-X interior e ver os medos, inseguranças e dúvidas. Claro que os têm! São humanos...Mas se calhar antigamente crescia-se mais depressa...O afastamento mais repentino dos entes queridos e uma espécie de auto-autonomia forçada se calhar tornava os jovens de há 15 anos atrás com 26 anos (agora com 41), bastante mais sólidos...

Se eu soubesse que com 26 anos, ia chegar aqui a este ponto, e andar tão baralhado, com tantas dúvidas, com tantas preocupações...Com esta indefinição de personalidade, de vida, de objectivos... Quando se muda radicalmente de meio, de pessoas que nos rodeiam, de pessoas que nos interpelam, é quase como nascer outra vez...Para um ruidoso mundo de coisas, em que a única coisa que levamos do anterior são padrões comportamentais e uma personalidade alterada pelo que vivenciámos... E nada nos poderá agora preparar para o que aí vem... A vida é mesmo assim...

Ou então, sou só um adolescente preso num corpo biologicamente mais amadurecido, cuja sociedade que moldou a sua personalidade, criticará por esse facto...